Nosso amigo Netto Alves leitor assiduo do nosso blog nos enviou essa materia sobre pré-hormonais. É importante dar uma olhada.
Vamos falar de um caso sério?
O assunto sério é o
uso de “suplementos” pré-hormonais. Exatamente aquelas substancias baseadas em
androstenediona, pregnenolona e seus derivados que vem presentes em produtos
como arimatest, m-drol, e tantos outros. Apesar de não encontrarmos produtos
nacionais com estes componentes por serem proibidos pela ANVISA observamos uma
gama enorme de importados, alguns até com o nome de medicamentos, usados para
incitar o uso em busca de um físico mais musculoso (como todo produto
direcionado para praticantes de musculação). Eles deveriam ajudar no ganho de
massa muscular, mas a confusão que fazem no metabolismo do praticante de
atividade física nos traz uma sensação de que não tem serventia no mundo do
esporte muito menos algum tipo de indicação e no decorrer do texto vocês
entenderão porque...
Pessoal, este em
particular tem me preocupado bastante, porque a experiência de consultório vem
confirmar algumas coisas que devido ao estudo da fisiologia eu sempre
desconfiei, mas como não existiam estudos sérios a respeito do assunto,
direcionados a esclarecer o real efeito do suplemento pré-hormonal no organismo
humano, precisei deixar o tempo passar para depois poder formar uma opinião
sobre o mesmo.
E o tempo passou, bem
como pacientes vieram...
Pois bem, o que trago
para vocês hoje são dados do nosso volume de atendimento em ordem de oferecer a
vocês um pouco de informação frente ao bombardeio propagandístico que os
produtos direcionados aos praticantes de atividade física, principalmente dos
produtos importados, nos impõe nas lojas e dentro das academias...
Este texto pode soar
antipático como “mais um médico falando mal de produtos direcionados aos
praticantes de atividade física”, estilo os velhos “suplementos proteicos vão
fritar seus rins e seu fígado” ou ainda “manga com leite é uma mistura mortal”
(essa é a mais famosa – dicas de como você pode morrer se alimentando...) (o que
ainda ninguém me explicou é como a creatina ficou proibida tanto tempo enquanto
cigarro e álcool continuavam fazendo suas vítimas).
Primeiro que
pré-hormonal não é suplemento. Se ele tem alguma função endócrina como informam,
não pode ser suplemento, tem de ser classificado como medicação. Sendo
medicação, devido a esta capacidade de afetar a produção de hormônios,
elevando-a, então seu uso não deveria estar indicado originalmente ao esporte ,
mas deveria ter surgido nas prateleiras das farmácias como forma de tratar
hipogonadismo (baixa função glandular) concorda?
Eu nunca vi nem tive
notícia de alguém que tenha se apresentado a um médico e este tenha tratado o
paciente com hipogonadismo com pré-hormonais produzidos por marcas
internacionais famosas de suplementação alimentar...
Ainda não falamos de
medicina, nem de fisiologia, falamos de bom senso: se a medicação aumenta nível
hormonal, vamos dar para quem está doente também poxa vida... porque se além de
“tratar” os níveis hormonais do esportista ele ainda “não faz mal como um
hormônio”, que motivo mais precisamos para aposentar todos os hormônios de vez
da face da terra como em toda boa evolução?
Quando questionamos o
fulano que nos oferece ele tem uma reação inicial de agir como um indivíduo que
acabou de gritar truco, mas pede para todo mundo marcar o ponto para ele sem
mostrar as cartas porque ele não mente...
E a coisa é bem assim
mesmo, porque quando você vai ler os componentes do produto, uma faixa muito bem
constituída tampa a sua observação com os seguintes dizeres: PROPRIETARY BLEND,
isto porque pelo FDA você não precisa divulgar tudo que tem no potinho... muito
diferente alias da legislação da ANVISA que se colocou extremamente correta com
relação a este tipo de produtos: negar sua venda no Brasil por falta de
informações sobre o produto que atestem sua eficácia ou ainda a sua
segurança...
A segunda reação do
sujeito que insiste no uso do produto é falar que vale a pena porque o fulano ganhou X quilogramas de massa
corporal. Bom pessoal, isto pode acontecer por outras razões que enumero para
vocês para que reflitam sobre o assunto, senão este texto vai ficar extenso e
chato:
1.
efeito
placebo
2.
falta de
conhecimento sobre todos os suplementos que a pessoa em questão está usando
(porque hoje, normalmente, quem pratica musculação não usa apenas um produto em
ordem de aumentar a sua massa muscular...)
3.
efeito reforço (este
eu vou explicar porque essa é boa... o sujeito vai 2,5x por semana na academia e
por indicação de alguém ele começa a usar um pré-hormonal, mas de uma forma que,
a pessoa que indicou orientou que, por se tratar de ser um pré-hormonal, este
sujeito não deveria ingerir álcool... logo, a sequencia de acontecimentos é a
que se segue: se ele não pode beber, corta-se a noitada de quinta, sexta e
sábado, e já que sobra tempo e energia, este rapaz começa a ir na academia 5 a
6x por semana – para ocupar o tempo e “aproveitar” o efeito do produto – em
contraste com as 2,5x que ele ia por semana para ficar batendo papo, fazer 10min
de esteira, 1 série de bíceps e ir para casa comer pizza... falando em pizza,
ele começa a pegar leve na alimentação porque, afinal de contas, está se
esforçando na sala de pesos, compensa evitar as porcarias e então, nada mais do
que de-repente-após-5-semanas em que o sujeito não ingeriu álcool, saiu das
noitadas, treinou e cuidou da alimentação o que o fez melhorar foi justo um
comprimidinho... soa inteligente não é mesmo???)
Minhas sinceras
desculpas se você se encontrou aqui. Não quis ser rude, nem te fazer soar como
chacota. Lembre-se que há tempo de mudar de atitude... mude sua atitude, mude
seu físico e mude sua vida... (como eu e o Rodolfo Peres sempre
falamos...).
Falando das razões
fisiológicas o que te falo é o seguinte:
1.
imaginando que seja
mesmo um pré-hormonal, lembre-se que você tem hormônios masculinos e femininos e
o pré-hormonal não é uma substancia inteligente que vai virar exclusivamente
aquilo que você quer...
2.
se é um
pré-hormonal, tudo que é regulado hormonalmente no organismo é regulado pela lei
do “feedback negativo”, ou seja, se você tem demais, seu corpo para de produzir
e, de verdade gente, não sabendo como fazer voltar a produção de um determinado
hormônio que foi substituido, não é muito seguro brincar com isso...
3.
testosterona é o que
menos regula a síntese de proteína no organismo em situações em que já dispomos
da nossa massa muscular programada, ou seja, se você der testosterona para uma
pessoa que sofre com carência deste hormônio, com certeza se ela apresentar como
sintoma uma perda muscular, isso será revertido. Mas, não pense que, estando
normal com sua capacidade genética, ela vai fazer você ganhar mais massa
muscular do que o programado... existem coisas como o efeito supressor muscular
da insulina quando liberada em excesso, somatomedina C, MGF e miostatina que têm
sido estudados arduamente porque é neles que reside boa parte do segredo do
ganho de massa muscular.
Agora falando de
fatos:
Lamento toda vez que
ouço na história clínica de um paciente que se queixa sobre desempenho físico
insuficiente quando ele relata o uso de “pré-hormonais”, isso porque todos, sem
exceção, tinham não só sintomas de hipogonadismo como exames comprovatórios
dessa hipótese. Na realidade, o que deveria ser consequência do mal uso destes
acabam sendo os principais efeitos colaterais do uso destas substancias – não
estamos falando de efeitos adversos (que podem acontecer), estamos falando de
efeitos colaterais (que acontecem) quando se usam essas medicações. Não há
portanto como estabelecer um uso sem indicação, muito menos um uso
indiscriminado porque, de fato, tais substancias não tem indicações de uso, e
estão aí só como mais um produto feito para arrecadar dinheiro para a indústria,
não para oferecer saúde, qualidade de vida e aumento da capacidade de física e
de resultados como deveria ser a obrigação moral das empresas que trabalham
nesse ramo...
O que devo ponderar
por puro respeito à sua inteligência é que de fato alguns destes paciente
atendidos poderiam já ter hipogonadismo antes de usar o produto e daí estamos
associando situações pré-existentes a novos diagnósticos, agora, se assim fosse
também temos que ponderar que o pré-hormonal, se funcionasse de fato, teria
tratado o paciente, o que evidentemente não aconteceu porque o paciente acabou
procurando um médico... e sabe o que me preocupa mais? Estima-se que apenas 25%
das pessoas que usam estes suplementos notam seus efeitos colaterais nos
primeiro 3 meses de uso (período na qual uma pílula de farinha faria o mesmo
efeito motivador devido ao efeito placebo) ou seja, as pessoas seguem piorando
sem notar não somente por um período de uso e sim por 3 meses! Ainda, destes que
notam que estão com um problema, somente 50% procuram um médico enquanto os
outros 50% tentam resolver o problema sozinhos ouvindo a indicação de colegas de
academia sem fazer nenhuma investigação clinica ou laboratorial! Dos que vao ao
médico somente 50% relatam o uso de substancias enquanto o restante tenta
induzir o médico a fazer uma investigação laboratorial de forma cega com o
argumento que não estão sentindo-se bem e que estão preocupados porque sempre
tomaram muito suplemento! (mais uma razão para o clinico geral abominar
suplementos alimentares – porque uma vez feito o diagnóstico sem o paciente
contar a historia toda, ele acaba sendo levado ao raciocínio que suplementos
alimentares causam uma diversidade de problema que na realidade só poderiam ser
explicados de fato se o paciente contasse tudo o que usa ou já usou em busca de
mais resultados...). Difícil tratar pessoas assim, não acha? Pois
é...
E finalizando com a
minha opinião, se me permitirem;
Não vale o risco,
pois, mesmo que de fato os componentes se tornassem hormônios da forma desejada, o fato puro de se
ter uma testosterona aumentada não resolve o enigma de ganhar músculos (até
porque se testosterona resolvesse ninguém teria inventado pré-hormonais, já que
o propósito é o mesmo...)
E o que discuto com
vocês é na realidade o bom senso comum:
A coisa começa
errada... a partir da situação da pessoa que acha que usar recursos hormonais
vai solucionar todos os seus problemas de desempenho, mas, não tem coragem de
utilizar esteroides clandestinamente, cria-se uma necessidade de se colocar algo no
mercado que preencha esta lacuna. O mercado responde criando um esteroide que
não é esteroide, mas que é esteróide (isso é muito louco até para mim...) onde a
propaganda é justamente “aqui tem uma testosterona que não é testosterona para
fazer mal, mas é testosterona para fazer o que se quer”.
Eu já ouvi essa
história antes: acaba sendo a clássica “fumar eu já fumei, mas não traguei”.
Ponham a mão na
consciência pessoal, ou melhor, na inteligência... é só usar o bom senso para
não ter de usar a saúde e o bolso para pagarem pelo desespero de se atingir algo
da noite para o dia...
Agora falta ouvir a
sua opinião...
Um abraço com muita
performance! (mas com muita saúde, claro)
Paulo Cavalcante Muzy é médico, ortopedista e traumatologista,
especialista em fisiologia do exercício pelo CEFE-Unifesp / Escola Paulista de
Medicina.
0 comentários:
Postar um comentário
Para mais informações entre em contato:
acadhemia@gmail.com