Por Rodolfo Anthero de Noronha Peres – Nutricionista Esportivo – CRN8 2427
Hoje¸ mais do que nunca¸ o assunto “queimar gordura”
chama a atenção de um número cada vez maior de pessoas. Produtos ou
dietas milagrosas estão em todos os lugares¸ seja na televisão¸ em
revistas ou nas livrarias (sempre entre os mais vendidos). A indústria
da perda de peso movimenta hoje cifras milionárias¸ pois a obesidade vem
crescendo de forma assustadora¸ sem distinção racial ou social¸ tanto
nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos. Hoje¸ existem
aproximadamente 5 ou 6 bilhões de pessoas em todo o mundo¸ sendo que das
quais¸ em torno de 300 milhões são obesas.
Acreditem¸ o maior contribuinte para o sucesso em um programa de
redução da gordura corporal¸ não está em nenhuma droga mirabolante¸ em
nenhum suplemento milagroso¸ ou ainda¸ em nenhuma aulinha de sala mais
delicada¸ mas sim em uma dieta adequada. A nutrição corresponde aos
processos gerais de ingestão e conversão de substâncias alimentícias em
nutrientes que podem ser utilizadas para manter a função orgânica. Esses
processos envolvem nutrientes que podem ser utilizados com finalidade
energética¸ para reconstrução e reparo dos tecidos¸ para a construção e
manutenção do sistema esquelético e para regular a fisiologia corpórea.
Durante milhões de anos¸ o ser humano sempre soube se alimentar¸
procurando intuitivamente se alimentar de forma adequada. Os alimentos
do homem caçador e coletor foram a carne¸ frutos e oleaginosas. Depois
vieram os tubérculos¸ raízes e cereais¸ cuja obtenção exigiu o uso de
instrumentos¸ isto coincide com o início da agricultura. A abundância de
recursos alimentares dependia de fatores ambientais¸ o homem se
deslocava em busca de comida¸ até que aprendesse a dominar os fenômenos
naturais e produzir seu próprio alimento pelo cultivo da terra e pela
domesticação de animais.
Considerando a alimentação da civilização moderna¸ durante cerca de
2.300 anos¸ nós seres humanos¸ mantivemos grande parte dos hábitos
alimentares adequados¸ sendo que somente nos últimos 150 anos¸ o avanço
tecnológico vem modificando a relação humana com o meio ambiente¸ ou
seja¸ nossa alimentação vem piorando em progressão geométrica. As
tendências de transição nutricional ocorridas principalmente no século
passado em diferentes regiões do mundo convergem para uma dieta mais
rica em gorduras (particularmente as de origem animal)¸ açúcares e
alimentos refinados; ao mesmo tempo em que essa dieta é reduzida em
fibras¸ carboidratos complexos e alimentos funcionais.
Geralmente a alimentação do indivíduo¸ reflete seu estilo de vida. É
fácil deduzir que existem grandes diferenças entre a alimentação de uma
pessoa gorda e de outra musculosa e com baixo teor de gordura corporal¸
simplesmente olhando para eles. Entretanto¸ não será a alimentação de
hoje ou de amanhã que surtirá este efeito¸ mas sim a alimentação
contínua através das semanas¸ meses e anos.
Primeiramente¸ devemos corrigir o conceito errôneo de perda de peso.
Perder peso definitivamente não é igual a perder gordura. Aqueles mais
impacientes¸ na ignorância de achar que quanto mais rápido melhor¸
buscam dietas nas quais ocorre uma redução de 3¸ 4¸ até 5 kg por semana.
Ao invés de ficarem felizes quando atingem uma perda como esta¸
deveriam na verdade ficar muito tristes¸ pois a maior parte desta perda
ponderal terá sido certamente de líquido e massa magra.
Para conseguir a diminuição da massa adiposa é necessária à
existência de balanço energético negativo¸ condição na qual o gasto
energético supera o consumo de energia. Os estoques de energia do
organismo são consumidos para sustentar os processos metabólicos¸ o que
leva a perda de peso¸ frente ao déficit energético. O gasto energético é
influenciado por três componentes: taxa metabólica basal; gasto
energético com exercício físico; e a energia gasta com o efeito térmico
dos alimentos. A taxa metabólica basal depende da idade¸ sexo¸
quantidade de massa corporal¸ freqüência cardíaca e níveis plasmáticos
de insulina¸ sendo influenciada principalmente pela massa magra. Já a
energia gasta com a atividade física depende da intensidade e da duração
desta¸ correspondendo ao maior índice sobre o gasto energético humano. O
efeito térmico do alimento deve-se principalmente aos processos de
digestão¸ absorção e assimilação de nutrientes¸ e representa¸ para uma
pessoa ativa¸ menos de 10% do gasto energético diário.
Uma das maiores mentiras que a indústria do fitness pode vender para
seus clientes é que o exercício físico isoladamente irá queimar gordura.
Estudos indicam que sem o controle nutricional¸ o indivíduo tende a
realizar aumento do consumo de calorias de forma compensatória. Assim¸ o
possível efeito redutor da adiposidade imposto pela atividade física
somente é perceptível com a intervenção nutricional. Por isso é tão
comum nós observamos gordinhos caminhando todo santo dia nos parques e
não emagrecerem um grama! Certamente os mesmos chegam em casa¸ atacam a
geladeira¸ e ainda colocam a culpa pela falta de resultados¸ na pobre
caminhada. Estudos indicam que sem o controle nutricional¸ a população
obesa tende a realizar aumento na ingestão calórica de forma
compensatória. Assim¸ o possível efeito redutor da adiposidade imposto
pela atividade física somente é perceptível com a intervenção
nutricional.
Na verdade¸ a dieta é muito mais eficiente em produzir déficit
energético do que o exercício físico¸ mas isoladamente¸ as dietas
hipocalóricas podem causar perda de massa magra. Portanto¸ o exercício
físico em associação com dietas¸ facilita a adesão ao controle alimentar
e garante maior sucesso na manutenção da massa magra e redução da massa
adiposa.
Hoje¸ as lojas de suplementos estão repletas de queimadores de
gordura que prometem acelerar o metabolismo. O que posso garantir para
vocês é que nenhum desses produtos irá realmente trazer um grande
benefício quanto à mudança na composição corporal¸ sem uma dieta
adequada atuando sinergicamente. Também não podemos omitir que realmente
existem algumas drogas¸ utilizadas no mundo do fisiculturismo¸ que
realmente tornam o metabolismo mais ativo¸ proporcionando uma grande
queima de gordura corporal. No entanto¸ os efeitos colaterais
provenientes do uso abusivo dessas drogas são imensuráveis. Nunca se
esqueça de que seu bem mais precioso é sua saúde! A seguir iremos expor
algumas estratégias alimentares saudáveis que vem sendo utilizadas por
nossos atletas com muito sucesso quando objetiva-se promover uma redução
na gordura corporal.
1. Não subestime seu gasto energético!
Um erro muito comum é ingerir muito menos calorias do que se gasta¸
ficando com um déficit energético considerável. Esta prática certamente
resultará em perda de massa magra. É inteligente não realizar um déficit
calórico maior do que 500 – 750 kcal por dia¸ o que irá resultar em uma
redução máxima de gordura corporal em torno de 0¸8 – 1¸2 kg por semana.
2. Não entre em homeostase!
Outro erro típico¸ ainda muito observado em dietas para perda de
gordura corporal¸ é a manutenção de uma dieta hipocalórica durante um
período muito longo. Esta prática errônea leva nosso organismo a uma
redução em seu gasto energético¸ principalmente por diminuir a
termogênese¸ devido a uma espécie de mecanismo de proteção a vida¸
herdado de nossos ancestrais¸ se não fosse isto¸ em privação de
alimentos pereceríamos rapidamente. Em apenas 1 semana¸ pode ocorrer uma
redução em torno de 10 a 15% do gasto energético diário.
Muitos processos fisiológicos operam nessa redução da atividade
metabólica¸ tais como: diminuição da atividade do sistema nervoso
simpático; mudanças periféricas no metabolismo tireoidiano; redução na
secreção de insulina; mudanças na secreção de glucagon e hormônio do
crescimento (GH). No entanto¸ muitos atletas e indivíduos que desejam
queimar gordura¸ há alguns anos vêm se beneficiando de uma estratégia um
tanto quanto saborosa para obter resultado. Estas pessoas comem tudo o
que quiserem em um dia da semana¸ inclusive doces¸ bolos e sorvetes¸ no
famoso “Dia do Lixo”¸ quando estrategicamente adiciona-se de 1.000 a
2.000 calorias provenientes de qualquer fonte de carboidratos.
Um dos grandes vilões da maioria dos programas de redução da gordura
corporal¸ são os famosos beliscos. O gordo todo santo dia belisca algum
docinho ou salgadinho que não estava em sua dieta¸ mas em sua concepção
isto não lhe trará nenhum problema¸ afinal¸ é só um! Porém¸ o que ocorre
é que nosso amigo gordo não consegue ter grandes resultados¸ pois seus
beliscos vêm tornando-se cada vez mais freqüentes. Nestes casos bem
típicos¸ o mais comum é por a culpa na coitada da tireóide¸ na academia
ou no nutricionista. Portanto¸ ao invés de se fazer uma dieta duas
semanas de forma ininterrupta e na terceira semana abandonar todo o
trabalho por causa da lasanha ao molho branco da avó¸ o mais prudente
seria colocar regras nisto.
Porém¸ deve-se ter precaução para não tornar essa prática obsessiva.
Já nos deparamos com casos de indivíduos que ficam programando as
compras no supermercado a semana toda e quando chega o tão esperado “Dia
do Lixo”¸ este come desesperadamente até passar grande parte de seu dia
no banheiro!
Muitos ainda especulam que após o dia do lixo¸ observa-se um aumento
significativo em seu peso corporal¸ achando inclusive que toda a semana
de dieta foi perdida. Porém¸ a maior parte deste peso é composto por
água¸ que provavelmente está ligada ao aumento dos estoques de
carboidratos do organismo. Além disso¸ se a alimentação do dia foi rica
em sódio¸ seus estoques de água também aumentariam. Retornando à dieta
no dia seguinte¸ esta retenção hídrica será eliminada rapidamente. Outra
questão a ser discutida é o fato de que em uma dieta hipocalórica¸
ocorre certa adaptação gástrica¸ ou seja¸ o apetite reduz
consideravelmente¸ o que dificulta uma ingestão alimentar muito
excessiva.
3. Procure manter a dieta o mais simples possível!
Por experiência¸ todo programa que lhe exigir muito trabalho¸ com
receitas complicadas¸ por exemplo¸ tenderá a fracassar. Procure variar
nos temperos naturais e formas de preparo¸ mas sempre mantendo uma base
com uma variedade não muito grande de alimentos. Também nunca se esqueça
de se alimentar a cada 2.5 – 3 horas. O ótimo fracionamento alimentar é
uma das principais medidas para se manter o metabolismo sempre ativo.
4. Mantenha um bom balanceamento de todos os nutrientes!
O interessante é manter uma ingestão em torno de 30% das calorias
ingeridas provenientes de proteínas; em torno de 15% a 20% provenientes
dos lipídios e o restante¸ em torno de 50% a 55%¸ proveniente dos
carboidratos¸ mas isso irá variar de acordo com a individualidade
biológica de cada um.
5. Mantenha a ingestão de proteínas elevada em todas as refeições!
Durante anos¸ ingestão protéica elevada foi condenada por inúmeros
nutricionistas. Hoje já se observa que exceto para pessoas com danos
renais ou com uma grande pré-disposição para tal¸ a ingestão um pouco
mais elevada de proteínas não ocasionará tal sobrecarga. É
desconsiderável admitir que um animal que esteve adaptado a uma dieta
rica em proteínas por mais de um milhão de anos¸ em apenas 7 mil anos de
agricultura ter se tornado um organismo predominantemente dependente de
carboidratos para sobreviver. No período paleolítico¸ estima-se que a
dieta possuía entre 3 e 4 vezes a mais proteínas do que a dieta do homem
atual. Cremos que uma alimentação repleta de aditivos químicos e
conservantes sim é danosa a saúde. Chegamos até aqui em nossa evolução
perseverando como a espécie mais bem sucedida no planeta comendo carne¸ e
muita carne! Uma dieta rica em proteínas na fase de definição muscular é
fundamental para evitar o catabolismo muscular.
6. Administre a quantidade e o tipo corretos de carboidratos!
Tenha em mente que existem diferentes tipos de carboidratos¸ a
principal fonte de calorias no organismo. Eles podem ser simples e
complexos. Quanto mais complexos¸ mais demoradamente eles “queimam” e
mais eficiente e sustentada será a liberação de energia. Já os
carboidratos simples liberam energia rapidamente.
Os carboidratos complexos existem em cereais¸ tubérculos¸ massas e
nos pães¸ sendo utilizados na refeição que antecede o treino. Deve-se
também considerar sempre o índice glicêmico desses alimentos. Esse
índice reflete o impacto que determinado tipo de carboidrato exerce
sobre a glicose sangüínea. Salvo na refeição imediatamente após o
treinamento¸ deve-se preferir sempre carboidratos de baixo índice
glicêmico. Batata-doce¸ carḠinhame e aveia¸ por exemplo¸ são boas
opções.
7. Ingira a quantidade correta de gorduras!
As gorduras não são totalmente um mal. Elas perfazem importantes
funções fisiológicas¸ tais como transporte de determinadas vitaminas¸
estruturação celular¸ etc. Em uma dieta visando definição muscular¸ é
interessante manter um aporte lipídico com apenas em torno de 1/3 destas
provenientes de gorduras saturadas¸ sendo que os 2/3 resultantes
deveriam provir de gorduras monoinsaturadas (azeite de oliva extra
virgem¸ castanhas¸ nozes¸ etc) e de gorduras poliinsaturadas (peixes de
águas frias e profundas¸ semente de linhaça).
8. Não subestime as vitaminas e sais minerais!
Muitas vezes observamos uma preocupação enorme de alguns indivíduos
com a ingestão de macronutrientes¸ porém acabam esquecendo-se dos
micronutrientes. Além de serem essenciais para o adequado funcionamento
do organismo¸ vale ressaltar que uma deficiência de qualquer um desses
micronutrientes¸ tende a reduzir a eficiência metabólica em utilizar
gordura como fonte de energia. Como exemplos¸ podemos citar as vitaminas
do complexo B e o cálcio¸ que são fundamentais no processo de lipólise.
O ideal é obter todos os micronutrientes por meio de uma dieta
balanceada e somente caso for observado alguma impossibilidade¸ seja ela
por falta de disponibilidade de alimentos¸ falta de tempo ou até mesmo
restrição alimentar. O correto seria realizar a suplementação isolada de
somente os micronutrientes que forem identificados como deficientes.
9. Alimente-se antes e depois do treinamento!
É conveniente realizar uma refeição em torno de 90 minutos antes do
treinamento. Esta refeição deveria conter uma quantidade adequada de
carboidratos complexos e proteínas¸ baixa em fibras¸ frutose e gorduras.
Imediatamente após o treinamento¸ é interessante realizar uma refeição o
quanto antes¸ a fim de auxiliar no processo de recuperação e evitar o
catabolismo. A fim de garantir maior praticidade¸ o uso de suplementos
neste caso é bem interessante¸ visto que além da dificuldade de
transporte¸ observa-se em treinamentos mais intensos¸ o que é conhecido
como anorexia pós-esforço¸ dificultando o processo alimentar. Neste
período recomenda-se o uso de um shake contendo proteínas de rápida
absorção (whey protein)¸ além de uma mistura de carboidratos com alto
índice glicêmico (dextrose e maltodextrina). Você pode ainda enriquecer
esta solução com BCAA´S¸ glutamina e HMB¸ dependendo de sua
disponibilidade financeira. Após um período de no máximo 60 minutos¸ é
interessante realizar uma refeição contendo uma boa quantidade de
proteínas de alto valor biológico¸ carboidratos complexos¸ e restrita ao
máximo em gorduras. Nesse momento¸ os níveis sangüíneos do hormônio
anabólico insulina encontram-se elevados¸ o que propicia uma ótima
absorção dos nutrientes ingeridos. Isto é muito interessante quanto às
proteínas e carboidratos¸ mas deve-se ter extremo cuidado com a ingestão
de gorduras. Porém¸ quando for realizada uma atividade aeróbica
isoladamente¸ é interessante aguardar 30 minutos após o término da mesma
para se alimentar. Ocorre que neste período¸ o organismo ainda está
utilizando predominantemente gordura corporal como fonte de energia.
10. Inclua alimentos funcionais em sua dieta
Atualmente¸ muito se pesquisa sobre alimentos funcionais¸ ou seja¸
aqueles que possuem elementos benéficos à saúde além dos nutrientes
básicos de uma alimentação saudável. Podemos citar: vinho tinto¸ chá
verde¸ molho natural de tomate¸ alho¸ oleaginosas¸ cebola¸ temperos
naturais (manjericão¸ alecrim¸ orégano)¸ linhaça e cereais integrais.
Vários estudos comprovam que uma dieta contendo a ingestão de soja
(proteína isolada) e peixes¸ apresenta melhores resultados quanto à
queima de gordura¸ quando comparada a uma dieta sem a ingestão desses
dois alimentos. Isto parece ser devido à presença adequada de ômega 3 no
caso dos peixes; e no caso da soja¸ observa-se que esta é uma excelente
fonte dos aminoácidos arginina e glicina¸ que são precursores do
hormônio glucagon. Este além de ser termogênico¸ auxilia na oxidação dos
ácidos graxos e promove glicogenólise hepática.
Para a elaboração de um ótimo programa
nutricional¸ procure sempre os serviços de um nutricionista esportivo.
Hoje¸ apesar de ainda serem poucos nutricionistas nessa área específica¸
possuímos excelentes profissionais atuando em todo Brasil.
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