Apesar
de estarem na moda e serem vendidos em muitas academias do país, os
suplementos alimentares são feitos apenas para atletas de alto
rendimento, profissionais ou não, e só podem ser recomendados por
médicos ou nutricionistas.
"O professor de educação física não
deve prescrever nada, senão se torna um desvio de função. Nós
trabalhamos com prevenção, o nutricionista atua com alimentos e o
fisioterapeuta, com patologias", afirma o presidente do Conselho
Regional de Educação Física do Estado de São Paulo (Cref/SP), Flavio
Delmanto.
Ele destaca que esse procedimento é
divulgado aos profissionais filiados e que o mercado tem espaço para
todos, desde que respeitada cada atribuição. Em relação à venda dos
suplementos nas academias, Delmanto diz que a fiscalização deveria ser
feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O educador físico Mauro Guiselini
complementa: "Existem personal trainers que aprendem as regras básicas
da suplementação e sugerem aos alunos. Isso é ruim para a profissão,
pois é o mesmo caso de praticar medicina ilegalmente. Tanto que alguns
profissionais já foram advertidos e até suspensos", diz. De acordo com
Guiselini, o grande problema é vender anabolizantes e hormônio do
crescimento no lugar de suplemento. "Aí o professor vira o cara que
vende a droga."
Além disso, esses produtos não podem
fazer propagandas enganosas, prometendo no rótulo uma eventual perda de
peso ou ganho de massa muscular. A Anvisa proíbe palavras ou imagens que
façam referência a hormônios ou induzam o consumidor sobre eventuais
efeitos. Estão vetadas, portanto, expressões como "anabolizantes",
"massa muscular", "hipertrofia muscular", "queima de gorduras" ou "fat
burners", e "aumento da capacidade sexual".
Segundo a nutricionista da área
esportiva Mirtes Stancanelli, que atua na Seleção Brasileira de Basquete
Feminino, a idade média dos principais usuários no país vai dos 20 aos
35 anos, e as mulheres já são um público-alvo considerável.
Na hora de determinar o que e quanto
uma pessoa vai tomar de suplemento, é fundamental saber se ela está
desprovida de algum nutriente, se a atividade que desempenha envolve
força, e qual o tempo e a intensidade do exercício.
"Quem consome esses produtos sem
indicação de um profissional pode ter problemas no fígado, nos rins e no
coração. Ferro demais, por exemplo, pode se depositar nas artérias e
causar cansaço. Muita vitamina C é capaz de aumentar o risco de pedras
nos rins. E, no fígado, pode haver um acúmulo de gordura. O que a
ciência coloca não é de agrado da indústria, mas a verdade é essa",
explica.
Além disso, se o indivíduo for mal
orientado, pode aumentar o percentual de gordura, ter acne, gases e
alergias respiratórias, no caso de consumir um excesso de proteínas.
Pode, ainda, apresentar dificuldade de digestão.
No caso da creatina, por exemplo, é
permitido tomar por dia apenas 0,3 mg por quilo de peso corporal,
ressalta Mirtes. Quanto ao isotônico, ele só deve ser uma opção quando
há realmente uma desidratação, ou seja, perda de 2% a 3% de peso
corporal em uma única atividade.
Outro ponto que deve ser observado é
que, quando a pessoa para de usar o suplemento, pode levar até dois anos
para readquirir a forma anterior, já que os produtos servem para
acelerar esse processo.
Para quem quiser opções naturais e mais
saudáveis de vitaminas e proteínas, a nutricionista sugere suco de
frutas, leite, iogurte, queijo, carne vermelha e ovos.

Seis categorias
A Anvisa divide os suplementos
alimentares em seis categorias diferentes: hidroeletrolíticos
(isotônicos, que hidratam as células), energéticos (basicamente
carboidratos, como maltodextrina, em géis, pó ou suco), suplementos de
proteínas (barrinhas de proteínas e gorduras para recuperação
pós-treino), produtos para substituição parcial de refeições (shakes ou
pós capazes de suprir eventuais necessidades de proteínas, carboidratos e
gorduras), complementos de creatina (proteína para liberação rápida de
energia em atividades de alta intensidade, como atletismo e natação) e
bebidas com cafeína (energéticos e estimulantes).
No Brasil, essas substâncias estão
isentas de registro, mas devem seguir um regulamento técnico da Anvisa
de abril de 2010, que estabelece critérios de classificação, indicação,
composição e rotulagem. Também precisam de um número de notificação
junto ao órgão de vigilância sanitária estadual ou municipal sobre o
início da fabricação ou a importação.
Cada produto deve informar esse número
de notificação, a lista de ingredientes, as informações nutricionais e o
prazo de validade.
Já os suplementos vitamínicos ou
minerais – cápsulas que podem suprir demandas de ferro, cálcio, zinco,
etc – não precisam de registro se os nutrientes não ultrapassarem 100%
da ingestão diária recomendada. Se isso ocorrer, o produto é considerado
um medicamento e necessita de autorização da Anvisa.
Caso as normas para os suplementos
alimentares sejam descumpridas, como no caso de propaganda enganosa, o
infrator deve ser penalizado, segundo uma lei de 1969 e outra de 1977.
Também deve ser aberto um processo administrativo sanitário.
Multas são analisadas individualmente, e
a empresa pode ter o produto suspenso por oferecer risco à saúde da
população. A fiscalização deve ficar a cargo da vigilância sanitária
local, que precisa encaminhar os dados à Anvisa, responsável pelas
autuações e publicações no Diário Oficial da União.

Complemento dos treinos
O maratonista Solonei Rocha da Silva,
vencedor dos Jogos Pan-Americanos de 2011 e da 18ª edição da Maratona de
São Paulo, realizada no dia 17 de junho, é um dos milhares de atletas
brasileiros que usam suplementos para melhorar o desempenho físico.
Aos 30 anos, o ex-catador de lixo que
hoje mora em Bragança Paulista (SP) corre todos os dias cerca de 30 km,
além de fazer fortalecimento muscular uma vez por semana. Para aguentar a
rotina pesada, ele recebe acompanhamento nutricional na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), onde foi orientado a tomar isotônicos,
proteínas, sachês e pós de carboidratos.
Isso tudo serve para dar um ganho
energético rápido, o que pode ser feito antes, durante e/ou depois dos
exercícios, dependendo de cada caso. No de Solonei, a suplementação
ocorre após o treinamento. E ele já mira na São Silvestre, em 31 de
dezembro.
"Também passei a ter mais nutrientes
dos alimentos, como suco de laranja e leite de vaca e de soja, que eu
não ingeria antes. O cálcio do leite ajuda a fortalecer os ossos, que
sofrem muito impacto na corrida. E todo o conjunto de suplementos faz
com que meu corpo responda melhor, sem ficar musculoso", diz o
maratonista, que tem 59 kg em 1,77 m.
Os suplementos atraem também quem não é
profissional. Ao frequentar a academia seis vezes por semana, o
estudante de administração Renato Escudero, de 21 anos, não lembra em
nada o adolescente sedentário e obeso que foi um dia.
Há quase cinco anos, o morador de São
José dos Campos (SP) trocou as comidas gordurosas e calóricas por
proteínas, aminoácidos, energéticos e isotônicos. Com isso e muita
malhação, enxugou 20 kg e começou a focar no ganho de massa magra. Hoje,
exibe 92 kg em 1,87 m de altura.
De segunda a sábado, Renato faz 40
minutos de musculação e 10 minutos de esteira. Geralmente depois do
exercício, ele toma proteína de soro de leite, glutamina e um complexo
de aminoácidos para recuperação muscular. Os produtos vêm em pó e são
misturados com água. “Quando chego em casa, como um sanduíche de pão
integral, queijo branco, peito de peru, atum ou frango”, cita.
O estudante começou a tomar os
suplementos por conta própria: interessou-se pelo assunto, pesquisou e
foi atrás. “No começo, tive problema de estômago, desconforto, passei
mal. Mas foi só no primeiro mês. Acho até que foi psicológico”, diz
Renato.
Os produtos para complementar os
treinos na academia também caem no gosto das mulheres que buscam um
corpo mais definido. É o caso da fisioterapeuta e personal trainer Luana
Veronesi, de 28 anos, adepta dos suplementos há um ano e meio. Ela
malha desde os 16 anos, mas de dois anos para cá intensificou a rotina.
A fisioterapeuta e personal
trainer Luana Veronesi malha há 12 anos, mas intensificou a rotina de
treinos há dois. Como complemento, ela toma aminoácidos, carboidrato,
proteínas e vitaminas
Luana toma aminoácidos líquidos
pré-treino. Antes e depois, aposta em proteínas isoladas (com sabor de
chocolate, baunilha, limão, uva ou tangerina), que ajudam a queimar
apenas a gordura, deixando a massa magra intacta. Além disso, ela
consome o carboidrato maltodextrina antes, durante e depois da malhação.
Quando treina muito pesado, ainda ingere creatina.
A jovem também toma cápsulas
manipuladas de vitamina C e E e um polivitamínico, sempre depois da
atividade física. Segundo ela, os comprimidos ajudam na imunidade e na
construção muscular.
"Todos esses suplementos são muito
calóricos, por isso diminuí os carboidratos da alimentação. Não dá para
usar isso tudo e ainda ter uma dieta ruim", diz Luana, que mora em
Mogi-Mirim (SP) e vai à academia de segunda a sábado.
A fisioterapeuta pesa 69 kg em 1,74 m
de altura, mas quem avalia seu peso pela balança se engana. Ela tem
apenas 17,5% de gordura no corpo, um padrão considerado ideal.
"Antes eu tomava sem orientação, mas
parava, não sabia ao certo o que poderia acontecer: engordar, inchar.
Agora tenho acompanhamento", revela.
Substâncias proibidas
Nas normas da Anvisa, também há uma
lista de substâncias que não podem entrar na composição dos alimentos
para atletas. Entre elas, estão: guaraná, erva-mate, ginseng, gengibre,
chá verde e aminoácidos como leucina, isoleucina e valina – que, neste
último caso, podem ser registrados como novos alimentos.
A taurina é permitida em energéticos
desde que dentro de um limite de 400 mg para cada 100 ml de produto. A
regra vale tanto para as marcas nacionais quanto importadas. Outro
aminoácido, a carnitina, não pode entrar nesses suplementos específicos
para atleta, mas tem previsão de uso em outras categorias, como remédios
emagrecedores.
Outros tipos de aminoácidos podem ser
usados combinados, para melhorar a qualidade de proteínas do produto,
mas não devem ser consumidos de forma isolada. No caso do ginseng e de
outras substâncias, como efedrina e garcinia cambogia, o uso está
liberado na área de medicamentos.
Regras específicas
Sobre os isotônicos, a resolução da
Anvisa diz que eles não podem ultrapassar 1.150 mg/l de sódio, e a
concentração de potássio não pode ser superior a 700 mg/l. Por outro
lado, podem ser adicionados de vitaminas e minerais, mas não de fibras.
As regras também falam sobre o limite máximo de carboidratos e frutose
(açúcar das frutas) no preparo desses líquidos.
No caso dos energéticos ou
carboidratos, o suplemento não pode conter mais de 75% do valor
energético proveniente dessa fonte. Em gramas, não deve passar de 15 g
na porção pronta para o consumo. A Anvisa diz, ainda, que esses produtos
podem ter gorduras e proteínas, mas não fibras e substâncias
consideradas "não nutrientes".
Quanto aos suplementos de proteínas,
devem ter pelo menos 10 gramas do componente em cada porção. Metade das
calorias precisa ter origem proteica e também não é permitido adicionar
fibras ou não nutrientes.
Em relação aos suplementos para
substituição parcial de refeições, os famosos shakes, existe uma
quantidade máxima permitida de carboidratos (de 50% a 70%), proteínas
(de 13% a 20%) e gorduras (até 30%) sobre o total do valor energético. O
produto deve fornecer pelo menos 300 kcal por porção.
Além disso, o teor de gorduras
saturadas e trans não pode ultrapassar 10% e 1%, respectivamente. E, ao
contrário dos anteriores, esses complementos podem ter fibras.
A Anvisa também prevê critérios para os
suplementos de creatina, cuja concentração deve ficar entre 1,5 g e 3 g
por porção. O grau de pureza da substância precisa chegar a 99,9%. E
não podem ser adicionados carboidratos nem fibras.
Por fim, os complementos de cafeína não
podem ficar abaixo de 210 mg nem acima de 420 mg por porção. Não pode
haver adição de nutrientes ou não nutrientes.
Alimentos que exigem registro no Brasil
Os alimentos que são obrigados a ter
registro da Anvisa no país são: produtos funcionais (aqueles com ação
comprovada sobre colesterol, intestino ou envelhecimento), substâncias
probióticas (iogurtes que facilitam o funcionamento intestinal),
alimentos infantis (como papinhas), produtos para nutrição enteral (por
sonda em pacientes hospitalizados), embalagens recicladas para contato
com alimentos e os chamados novos alimentos ou ingredientes (cápsulas,
comprimidos e tabletes de vários componentes, como óleos, derivados de
soja, fitoesteróis, quitosana e licopeno).
Nessa última categoria, encontram-se
também produtos feitos de frutas ou vegetais submetidos a processamento
de secagem ou desidratação.
FONTE: G1.globo.com
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