As substâncias potencialmente letais ao coração estão disfarçadas e circulando livremente nas academias de ginástica.
Um análise feita em laboratório dos Estados Unidos com 634
suplementos alimentares de diferentes marcas (as mais usadas em todo
mundo) mostrou que 14,8% deles eram “batizados” com substâncias
proibidas no mundo do esporte, sendo os anabolizantes, os esteróides e
os inibidores de apetite as principais.
Os dados foram apresentados aos médicos de todo País no mês
passado, pelo especialista em medicina do esporte e chefe da Santa Casa
de Santos, Carlos Cyrilo Severa.
“A situação que temos hoje é alarmante. Para conscientizar os
jovens de que o uso destas substâncias é perigoso , temos de primeiro
nos impor diante da recomendação do instrutor das academias, já que eles
são os grandes indicadores destes produtos”, declarou Severa.
Consumo e padrões
O suplemento batizado com o anabolizante e o esteróide não é o
único caminho entre o uso destes produtos que aumentam a massa muscular
e o jovem. Muitas vezes, a população na faixa-etária entre 15 e 20 anos
adquire as drogas – criadas para serem usadas em cavalo- pela internet e
faz a aplicação com injeção nos banheiros das academias, caminho que
facilita não apenas as doenças cardiovasculares, como também os
problemas infecciosos (o compartilhamento de seringas é canal de
transmissão de aids e hepatite B).
Segundo Severa, uma análise foi feita com 500 usuários de
anabolizantes sem prescrição médica e constatado que 63,4% tinham
atrofia sexual, 51,2% insônia crônica e 24,6% disfunção erétil,
problemas campeões em porcentagem de uma lista de mais de 16 queixas de
saúde detectadas em todos os participantes do estudo. “Todos tinham
sequelas, sem exceção.”
No Brasil, a exigência por um padrão estético cada vez mais
musculoso, inclusive no universo feminino, faz com que a confissão de
uso de anabolizantes para fins estéticos cresça a passos largos. Em
2001, uma análise do Centro Brasileiro de Informação Sobre Drogas
Psicotrópicas da Unifesp calculou que 0,1% das pessoas faziam uso destes
produtos de forma ilegal. O número cresceu para 0,5% em 2005 e, há dois
meses, um levantamento da Secretaria Nacional Antidrogas evidenciou que
na população universitária, 8% já usaram as chamadas “bombas”.
“É uma conduta tão incorporada e tida como natural que
impressiona”, afirma o médico do esporte do Instituto Dante Pazzanese,
Ricardo Corsini. “Nós fazemos um acompanhamento de um grupo de
fisiculturistas no Instituto e cada um deles usa uma média de seis a
sete produtos diferentes. O mais curioso e alarmante é que os homens
relatam o uso de pílulas anticoncepcionais, ou seja hormônios femininos,
para tentar atenuar as seqüelas dos anabolizantes (voz grossa, aumento
de pêlos), que eles sentem diariamente, mas não pensam em parar de
usar.”
Outros disfarces
O diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, Nabil Gorayeb, diz que é
preciso reforçar a atenção e o combate aos anabolizantes, mas estas não
são as únicas substâncias perigosas que circulam no meio dos exercícios
físicos.
“O nosso dever como cardiologista é alertar que não há
segurança e nem eficácia comprovada nos modismos que todos os dias
surgem nas academias.Agora é a vez da medicina antiage
(antienvlhecimento), com pílulas e fórmulas que não acabam mais.”
Outro alerta, acrescentou o médico Severa, é a sibutramina,
usada para emagrecer e já proibida nos Estados Unidos. “A pessoa que faz
uso de sibutramina eu não indico exercício físico. O risco cardíaco é
aumentado.”
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