O treinamento de força é uma modalidade física na qual apenas recentemente tem sido abordada pelo campo da ciência, pois se sabe que a maior parte da teoria conhecida até á alguns anos atrás era empírica. Contudo a atual participação da ciência vem contribuindo para comprovar a eficiência e qualidade de diversos tipos de metodologias e exercícios utilizados na área ao treinamento de força. Isto tem dado maior fundamentação científica e proporcionando evoluções no sentido de diminuir o risco de lesões, auxílios nas prescrições bem como a adequação do seu uso e diminuição dos mitos que o acompanham. Alguns exercícios musculares com sobrecarga são dúbios no que diz respeito a sua atividade muscular. (COSCRATO)
As cargas na coluna vertebral são produzidas principalmente pelo peso corporal, tensão dos músculos vertebrais ou que possuem origem/inserção na coluna vertebral e cargas externas, tais como força de reação do solo e barras e anilhas. (FERREIRA) É sabido que a magnitude da força patelofemoral é afetada pelo modo de como o exercício é realizado e que um aumento da flexão do joelho aumenta a força patelofemoral. (HIRATA).
O agachamento (COSCRATO, FERREIRA, PUPO, SILVA) um movimento funcional presente nas atividades da vida diária (GRAMANI-SAY) e o avanço (FERREIRA) (ou afundo) são tipos de exercícios musculares muito utilizados por atletas em programas de condicionamento e força para melhora da performance em diversos esportes. Além do uso para atletas de alto rendimento, esses exercícios proporcionam um desenvolvimento muscular esteticamente superior, principalmente para coxas e glúteo, quando comparada a outros exercícios que visam trabalhar estas regiões do corpo. Por isso, a sua utilização por profissionais de educação física de academias de musculação tem sido cada vez maior com o intuito de atender a fins estéticos da população que freqüenta estes ambientes, especialmente o público feminino. (COSCRATO, FERREIRA, PUPO, SILVA) Outra utilidade atribuída ao agachamento é que por ser classificado como um exercício de cadeia cinética fechada é recomendado e utilizado em diversas reabilitações de joelho (ALIOTO, COSCRATO, FERREIRA, GRAMANI-SAY, HIRATA, PIZZATO, PASSOS, PUPO, SACCO SILVA, SOUSA) por proporcionar maior estabilidade por meio da co-contração do músculo quadríceps e isquiotibiais, e propriocepção articular (GRAMANI-SAY).
Estes exercícios multiarticulados desenvolvem os maiores e mais fortes músculos do corpo os quais são importantes em vários movimentos atléticos (COSCRATO, FERREIRA, PUPO, SILVA). O agachamento e o avanço são classificados como exercícios básicos, pois envolvem muitas articulações além do quadril e joelho, tornando-os mais complexos que os exercícios para articulações isoladas. Porém. exigem uma boa técnica de execução, consciência postural, flexibilidade, coordenação e estrutura muscular previamente fortalecida em algumas articulações a fim de evitar as lesões, principalmente na coluna vertebral e joelho, que podem vir associadas. (COSCRATO, PUPO, SILVA) Na maioria das vezes isto ocorre por uma técnica de execução precária e/ou falta de estrutura muscular das articulações mais exigidas quando há utilização de muita sobrecarga. (COSCRATO, FERREIRA, PUPO, SILVA) Dessa forma, um melhor entendimento da biomecânica desses dois exercícios (agachamento e o avanço) será de grande valia no sentido de ajudar tanto fisioterapeutas, treinadores, médicos desportistas, técnicos e professores de educação física que tenham como objetivo: reabilitação, treinamento ou mesmo estética e saúde. (COSCRATO, PUPO)
Execução do Exercício
O agachamento livre com a barra é uma forma de exercício muscular iniciado na posição ereta seguido da flexão do joelho até determinado ângulo e ligeira inclinação do tronco para frente. Após chegar no ângulo desejado, realizar extensão das pernas retomando o tronco à posição inicial, ou seja, posição ereta similar ao movimento de sentar e levantar de uma cadeira (COSCRATO). Entre outros, é um dos métodos mais utilizados e pode ser executado de diversas formas variando de indivíduo para indivíduo. (COSCRATO, FERREIRA, SILVA, SOUSA) Pode ser realizado até a metade (meio agachamento 0º a 90º) (COSCRATO, GRAMANI-SAY, PASSOS, SACCO, SOUSA) ou até a coxa encostar na perna (agachamento completo) (COSCRATO). É sabido que a magnitude da força patelofemoral é afetada pelo modo de como o exercício é realizado e que um aumento da flexão do joelho aumenta a força patelofemoral (HIRATA, PASSOS); com variações no afastamento das pernas e posicionamento dos pés; (COSCRATO, GRAMANI-SAY) pode ser feito com ou sem o uso de calço sobre os calcanhares (COSCRATO, FERREIRA) no intuito de melhorar o equilíbrio na fase excêntrica, evitando que o tronco projete-se anteriormente (PUPO) e; com a barra atrás da nuca (sobre o trapézio ou sobre o deltóide) ou pela frente (sobre a clavícula). (COSCRATO) E ainda o exercício agachamento pode ser realizado com a barra livre ou barra fixa em trilhos verticais. (FERREIRA)
Observa-se uma diferença considerável no valor da sobrecarga na coluna entre o exercício realizado com a barra livre e com a barra no trilho (cerca de 84,6%). Isto é devido ao fato do trilho não permitir a flexão do tronco para à frente durante o exercício a fim de compensar o deslocamento do centro de gravidade (FERREIRA). Esta flexão do tronco aumenta o braço de alavanca da barra e do peso do tronco sendo maior, portanto, a solicitação dos músculos extensores da coluna a fim de manter a estabilidade. Desta forma a sobrecarga na coluna tende a aumentar. (FERREIRA, SOUSA) Aumentos relativos do pico de torque no joelho varia de 30% a 66% entre estudos de diversos autores indicando uma maior carga mecânica na articulação patelofemoral quando o joelho passa da linha vertical do pé. (HIRATA, SACCO)
Em uma, situação de treinamento, o executante realiza várias repetições do exercício com barras bem pesada. Se o agachamento não puder ser substituído o por outros exercícios que trabalhem a musculatura extensora dos membros inferiores, este deve, preferencialmente, se executado com a barra correndo em trilhos verticais para preservar a coluna lombar. Por outro lado, os esforços no joelho, articulação bastante solicitada no agachamento, devem igualmente ser considerados ao se recomendar este tipo de exercício. (FERREIRA) Não passar o joelho da linha do pé diminui a força de compressão patelofemoral, podendo assim levar a uma menor solicitação mecânica dessa articulação. O torque no quadril também aumenta durante a condição em que o joelho ultrapassa o tornozelo, o que, de forma análoga, pode levar a uma maior sobrecarga lombar nesta condição. (HIRATA)
O avanço é uma forma de exercício muscular iniciado na posição ereta e pernas levemente afastadas seguida da realização, por uma das pernas, de um passo à frente acompanhada da flexão do joelho, procurando manter o tronco o mais reto possível. Chegando ao ângulo de flexão do joelho desejado, retomar a perna à posição inicial. O avanço é o exercício no qual a articulação do quadril consegue realizar a maior amplitude de movimento. Segundo um grupo de pesquisadores, o avanço trabalha intensamente os glúteos máximos e pode ser realizado de duas maneiras diferentes: realizando um passo menor no qual o quadríceps será muito solicitado ou realizando um passo largo no qual os posteriores de coxa e glúteo máximo serão mais intensamente solicitados. (COSCRATO)
Contudo, outra forma de execução com afastamento posterior, pois, segundo o autor, o afastamento anterior cria uma certa inércia para o fêmur, que tende a continuar o movimento para frente quando a tíbia se fixa no momento em que o pé toca o solo, criando um estresse maior para os ligamentos e tendão patelar. Em relação ao posicionamento do tronco e ação muscular: quando o executante projeta o tronco para frente, na fase excêntrica do movimento, o braço de momento da resistência aumenta na articulação do quadril e diminui na do joelho. Assim, aumenta o trabalho dos músculos glúteo máximo e isquiotíbiais da perna que ficou à frente. Além disso, nesta situação o braço de momento da resistência para a coluna também aumenta, favorecendo o aumento das forças compressivas nesta articulação; se o executante mantém a postura da coluna ereta e concentra o peso na perna que está atrás, somente o quadríceps realizará o movimento sem qualquer participação dos extensores do quadril desta perna. Na perna que ficou à frente, o trabalho também é maior para o quadríceps. (COSCRATO)
Foi demonstrado que a média da atividade exercida pelo músculo eretor da espinha no agachamento livre é de aproximadamente 19,13% superior à atividade do glúteo máximo. Tal diferença pode ter ocorrido devido ao fato do músculo eretor da espinha ter como característica principal à sustentação corporal, exercendo sua atividade muscular antes mesmo do início da execução do exercício. (COSCRATO)
Com relação ao avanço, quando realizado com o passo maior o glúteo máximo é mais solicitado do que quando realizado com o passo menor. Analisando as médias da atividade eletromiográfica do glúteo em pesquisa, não foi possível detectar diferenças significativas entre as variáveis dos dois avanços citados anteriormente. Em revisão de literatura não encontra-se referências a respeito da atividade muscular do eretor da espinha nas duas respectivas variações dos avanços. Entretanto, em um estudo constatou que não houve diferença significante no músculo eretor da espinha para as duas formas de execução dos avanços. (COSCRATO)
O músculo eretor da espinha apresentou um padrão significativamente superior nos exercícios de agachamentos livre em relação aos avanços com valor médio de 7,01 % mais ativo em relação ao glúteo máximo. Isto pode ter ocorrido em decorrência da tendência que existe de se projetar o tronco à frente, na fase excêntrica do movimento de agachamento, aumentando o braço de resistência na articulação do quadril e conseqüentemente gerando maior atividade muscular do eretor da espinha. Já no avanço a postura da coluna ereta é mais facilmente mantida, concentrando a sobrecarga em outros músculos como, por exemplo, o glúteo máximo. (COSCRATO)
Contudo foi observado que, apesar de ter sido notado que a atividade média do glúteo máximo foi 3,97% superior nos avanços comparado aos agachamentos, não se encontrou diferença significativa entre ambos exercícios. A ocorrência dessa diferença pode ser explicada pela menor atuação do eretor da espinha no avanço proporcionando, talvez, uma maior sobrecarga no glúteo máximo. (COSCRATO)
Conclusão
O agachamento pode se tomar um exercício mais lesivo (HIRATA) para região lombar (COSCRATO, FERREIRA, SILVA) que o avanço (COSCRATO) devido ao músculo eretor da espinha ser mais ativo no agachamento livre (COSCRATO, FERREIRA, SILVA) do que no avanço (COSCRATO), gerando maior tensão na região lombar (COSCRATO, FERREIRA, PUPO, SILVA, SOUSA). Sendo assim, o avanço parece ser menos intenso para a região lombar e conseqüentemente mais indicado para casos mais leves de lesões na coluna, já que parece gerar menor sobrecarga para a mesma; o músculo eretor da espinha apresenta valores médios de energia superiores ao músculo glúteo máximo tanto nos exercícios de agachamento quanto nos de avanço. (COSCRATO) Sendo a força patelofemoral maior na condição em que o joelho ultrapassa o tornozelo e que, nessa condição, parece ocorrer um maior torque na articulação do quadril, realizar o agachamento, com barra passando o joelho da linha do pé, não parece ser o modo mais seguro de execução desse movimento. (GRAMANI-SAY, HIRATA, PASSOS, SACCO, SOUSA)
Alguns fatores podem influenciar nos resultados das pesquisas como por exemplo: consciência corporal durante o exercício, nível de treinamento. Experiência prática, diferenças individuais morfológicas e biomecânicas. (COSCRATO, FERREIRA, PASSOS, PUPO, SACCO, SILVA, SOUSA) Pesquisas com o exercício avanço são escassas necessitando de mais estudos para concretizar as afirmações do autor.
Referências Bibliográficas
ALIOTO, O. E.; PEREIRA, B. S.; FERRANTE, A.P.O. Avaliação do aumento de força muscular com uso de exercícios de cadeia cinética fechada e eletroestimulação em indivíduos portadores de condromalácia patelar. www.inicepg.univap.br/INIC_07/trabalhos/saude/inic/INICG00650_01C.pdf
COSCRATO, Denise Osti, et al. Análise da resposta eletromiográfica dos músculos gluteo maximo e eretor da espinha durante os exercícios de agachamento e avanço. Revista Digital Vida & Saúde, Juiz de Fora, v. 1, n. 1, ago./set. 2002.
FERREIRA, Dorivan Rodrigues; VIEIRA, Marcus Fraga. Estimativa da Sobrecarga Axial na Coluna Vertebral Lombar no Exercício de Agachamento. LILACS id:236252
GRAMANI-SAY, K.; PULZATTO, F.; SANTOS, G.M.; et al, Efeito da rotação do quadril na síndrome da dor femopatelar. Ver. Brás. Fisioter. Vol.10, N° 1, 75-81 2006
HIRATA R.P; DUARTE M. Efeito da posição relativa do joelho sobre a carga mecânica interna durante o agachamento. Rev. bras. fisioter. vol.11N°2 Mar./Apr. 2007
PASSOS, F.F.; CERQUEIRA, E.P.; Estudo morfológico e eletromiográfico dos músculos adutor longo e vasto medial (fibras oblíquas) durante exercícios em cadeia cinética aberta e fechada, com e sem adução do quadril. R. Brás. Ci. E Mov.; 11(3):67-76
PIZZATO, L.M.; ARAKAKI,J.C.; VASCONCELOS, R.A.; et al, Análise da freqüência mediana do sinal eletromiográfico de indivíduos com lesão do ligamento cruzado anterior em exercício isométricos de cadeia cinética aberta e fechada. Rev Bras Med Esporte- Vol 13. N°1 – Jan/Fev, 2007
PUPO, J.D.; SILVA, L.P.; MOTA, C.B. A influência do uso do calço na movimentação do complexo lombo-pélvico e no equilíbrio corporal durante o exercício agachamento. http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008
SACCO, I.C.N.; KONNO, G.K.; ROJAS.; G. B. Respostas eletromiográficas, funcionais e posturais a um tratamento fisioterapêutico da síndrome femoropatelar
Fisioterapia e Pesquisa13(1):16-22) 2006
SILVA, C.O; BATTISTELLA, L.R.; et al. Analysus of the lumbar and pelvic rhythm during trunk flexion-extension in two load lifiting conditions simulated in health policemen. Acta Fisiatr. 11(3): 117-124, 2004
SOUSA, C.O; FERREIRA, J.J.A; MEDEIROS, A.C.L; ET al. Atividade eletromiográfica no agachamento nas posições de 40°, 60° e 90° de flexão do joelho. Rev Bras Med Esporte- Vol 13. N°5- set/Out 2007
FONTE Profcaco.blogspot.com
0 comentários:
Postar um comentário
Para mais informações entre em contato:
acadhemia@gmail.com