Fazer musculação
já faz parte da rotina de muito corredor, visando reforçar a
musculatura para suportar a carga de treinos e prevenir lesões. Nos
últimos tempos, contudo, o Pilates tem se tornado um método mais
popular, prometendo, entre outras coisas, aumentar o condicionamento
físico e fortalecer a musculatura, ou seja, os mesmos benefícios
encontrados na musculação. Muitos corredores resolveram associar as duas
modalidades, outros decidiram trocar uma pela outra. Mas, afinal, é uma
boa idéia deixar de fazer musculação para ter o Pilates como único
trabalho complementar de fortalecimento dos músculos? A Contra-Relógio
ouviu especialistas para buscar a resposta a esta questão. E a tese que
prevaleceu foi a que defende a associação dos dois exercícios.
"Os
dois são bons, cada um com benefícios diferentes. O ideal seria fazer
musculação três vezes por semana e Pilates duas vezes, alternadamente",
aconselha o personal trainer Alan Lucena, da academia Runway de
Brasília. "O que a musculação deixa de vício postural, o Pilates vem
para corrigir, porque trabalha a flexibilidade e também um pouco de resistência", completa.
A educadora física Maria Cristina Abrami, do Centro de Ginástica
Postural Angélica (CGPAPilates), em São Paulo, também aponta benefícios
da prática conjunta de Pilates e musculação, diferenciando os
resultados das duas atividades para os corredores. "No caso de atletas
de alto nível onde o treinamento tem que ser mais específico e
periodizado, o Pilates seria um elemento a mais que levaria o atleta a
se recuperar de possíveis exageros, no reequilíbrio corporal e na
prevenção de lesões. O trabalho muscular com carga maior seria realizado
pela musculação", compara.
A
musculação treina grandes grupos musculares com objetivo de hipertrofia
muscular com aumento da força ou de resistência muscular, com aumento
da força, mas sem hipertrofia - mais comum no caso de corredores. O
Pilates, por sua vez, tem como objetivo o reequilíbrio muscular, melhora
da postura e definição dos músculos sem hipertrofia e sem sobrecarga
articular, como explica a professora.
PODE OU NÃO PODE? Para
Alan Lucena, o corredor não deve abandonar a musculação por conta do
Pilates. "Mesmo odiando a musculação, é importante fazer, nem que seja o
mínimo de exercícios para os principais grupos musculares como lombar,
abdomen, panturrilha", ressalta. "Em 15 minutos dá pra fazer isso, ou
até mesmo em casa, com o uso de caneleiras, depois de uma prescrição do
professor". O que o Pilates poderia substituir, em sua opinião, seriam
aulas específicas de alongamento.
Cícero
Campelo Neto, coordenador do clube de corrida Spaço Uno, de Brasília,
tem opinião diferente. Para ele, o Pilates pode substituir a musculação,
oferecendo benefícios ainda maiores. "O que é a musculação? É um
estímulo elétrico do músculo. Isso o Pilates também faz, só que com
molas, usando o próprio peso do corpo", avalia. "Com a vantagem que a
mola também trabalha a fase negativa do movimento, porque não tem a ação
da gravidade; você não vai soltar a força na volta do movimento, como
geralmente acontece nos aparelhos de musculação", acrescenta.
Ele
ressalta que o Pilates também trabalha a flexibilidade, essencial para
quem pratica a corrida. "O corredor precisa estar forte e alongado. O
Pilates melhora a mecânica de corrida, porque melhora muito a postura e
faz uma reorganização muscular, além de trabalhar a respiração".
Cícero
também destaca a prevenção de lesões como outro aspecto positivo do
método. Antes de pesquisar a modalidade, ele foi professor de musculação
e diz que enfrentou problemas com alunos corredores. "Um aluno tinha
uma dor tibial constante. Conseguia correr uma semana e na outra
diminuía o ritmo. Com o Pilates descobri que, na verdade, o que ele
tinha era um encurtamento de glúteo. Trabalhamos para corrigir esse erro
de postura e hoje ele corre normal, sem dor", exemplifica.
Segundo
ele, é possível adaptar as aulas ao treinamento de corrida do aluno.
Depois de uma prova longa, seria feito um trabalho de amplitude, sem
muita força, mais para relaxamento muscular. Quando o treinamento de
corrida buscasse força, as aulas de Pilates seguiriam a mesma linha,
também puxando mais a força nos exercícios.
SEM POLÊMICA. O médico
do esporte e consultor da seção Medicina Esportiva da Contra Relógio,
José Marques Neto, afasta a polêmica, dizendo que o melhor método é
aquele ao qual o corredor mais se adapta e o que mais gosta. "Em algumas
épocas ele pode fazer mais musculação, em outras, mais Pilates. Eu
deixo em aberto para a pessoa escolher, porque acho que o mais saudável é
fazer atividades diferentes como complemento dos treinos de corrida",
recomenda.
Ele mesmo,
praticante de musculação e corredor, fez aulas de Pilates durante três
meses "para poder conhecer melhor e orientar meus pacientes". O médico
conta a principal diferença que identificou entre os dois exercícios: "O
Pilates trabalha a musculatura do centro do corpo, com um
desenvolvimento abdominal e de tronco, que não é normalmente trabalhada
com os aparelhos da musculação."
No
entanto, José Marques diz que a musculação garante a proteção da
musculatura dos corredores e que não há preocupação com a hipertrofia.
"Encontrar problemas de hipertrofia muito acentuada em corredores é
raro, porque nosso nível de intensidade nos exercícios é baixo".
Cícero
Campelo, ao contrário, acredita que sem alongamento, a musculação pode
trazer prejuízos. "Se o corredor fizer um trabalho de tiro com a
musculatura encurtada, corre o risco de arrebentar essa musculatura",
adverte. Daí a importância do alongamento, que podem vir de aulas
específicas ou, na opinião de Campelo, do Pilates, que alia força e
flexibilidade.
Já Alan Lucena diz que a
musculatura só não aguentará a carga se for buscada uma hipertrofia em
curto prazo. "O trabalho de musculação tem que ser progressivo,
programado e de crescimento constante. Não se pode buscar hipertrofia de
uma hora para outra".
RESULTADOS MAIS LENTOS. A
professora Maria Cristina Abrami alerta que aqueles que buscam ganhar
massa muscular e força em musculaturas específicas devem procurar a
musculação, que permite que se façam várias repetições do mesmo
movimento.
"No Pilates, os exercícios
são executados com no máximo dez repetições e a evolução do treinamento
se dá não pelo aumento das repetições, mas sim pelo maior número de
exercícios (diferentes) para o mesmo grupo muscular. O objetivo é o
máximo controle e precisão de movimentos", diferencia.
Desta
forma, ela afirma que o corredor que já possui um bom condicionamento
físico evolui mais rapidamente na técnica, trabalhando força e
alongamento de forma simultânea. Comparando iniciantes e corredores mais
treinados, Cristina diz que o primeiro grupo fará um trabalho muscular
"mais consciente" com o Pilates, "preparando a musculatura de uma forma
mais equilibrada. Os mais preparados observarão uma reorganização
postural e o alívio das tensões causadas pela prática repetitiva de
movimentos." A especialista lembra, contudo, que existem poucos
trabalhos cientificos sobre o Pilates e, por isso, "não podemos afirmar
que o trabalho de resistência muscular seria similar" ao que é
proporcionado pela musculação.
O
personal trainer Alan Lucena diz que os resultados do Pilates são mais
lentos porque a execução dos exercícios exige uma concentração maior,
uma vez que os movimentos são mais complexos. Por isso, as aulas devem
sempre ser orientadas por um professor.
Esta
é outra vantagem do Pilates sobre a musculação, na defesa feita por
Cícero Campelo. Para ele, quem não gosta do ambiente de academia
encontrará algo completamente diferente nos estúdios de Pilates.
"Primeiro que o Pilates não tem aula pré-determinada, com fichinha de
exercícios", alfineta, referindo-se às planilhas usadas pelas academias
para os treinos de musculação. Além disso, continua Campelo, as músicas
são calmas e o público é reduzido, o que faz com que o professor se
torne quase um personal trainer para cada aluno. "Mas tem que ser o
Pilates original, não essas alternativas que vendem por aí, chamando de
Pilates com bola, por exemplo. O original só tem um", diz.
Cristina
Abrami finaliza a discussão dizendo que "não seria o caso de substituir
o Pilates pela musculação", por não haver comprovação científica sobre a
equivalência dos dois métodos. "O que existe são muitas vantagens em se
praticar o Pilates sozinho ou associado à musculação".
Fazer
musculação já faz parte da rotina de muito corredor, visando reforçar a
musculatura para suportar a carga de treinos e prevenir lesões. Nos
últimos tempos, contudo, o Pilates tem se tornado um método mais
popular, prometendo, entre outras coisas, aumentar o condicionamento
físico e fortalecer a musculatura, ou seja, os mesmos benefícios
encontrados na musculação. Muitos corredores resolveram associar as duas
modalidades, outros decidiram trocar uma pela outra. Mas, afinal, é uma
boa idéia deixar de fazer musculação para ter o Pilates como único
trabalho complementar de fortalecimento dos músculos? A Contra-Relógio
ouviu especialistas para buscar a resposta a esta questão. E a tese que
prevaleceu foi a que defende a associação dos dois exercícios.
FONTE: Revistacontrarelogio.com.br
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