Tireóide engorda???... Relação entre a tireóide e o peso corporal


Qual a relação entre a tireóide e o peso corporal?
Há muito tempo, sabe-se que existe uma relação complexa entre as doenças da tireóide, o peso corporal e o metabolismo. Os hormônios tireoidianos regulam o metabolismo (gasto de energia) em animais e em humanos. O metabolismo pode ser avaliado, medindo-se o consumo de oxigênio pelo corpo em um determinado período de tempo. Se essa medição for realizada em repouso, esse valor é denominado taxa metabólica basal (TMB). De fato, a medida da TMB foi um dos primeiros testes realizados para avaliar a função tireoidiana de um paciente. Pacientes com glândulas tireóides anormais, com baixa produção de hormônios, apresentavam baixa TMB, e aqueles com tireóides que funcionavam demais e produziam hormônios em excesso apresentavam TMB alta. Estudos posteriores ligaram essas observações com as medidas de T3 e T4 (os hormônios produzidos pela tireóide) e mostraram que baixos níveis desses hormônios associavam-se com TMB reduzida, enquanto níveis altos de T3 e T4 associavam-se com TMB elevada. A maioria dos médicos não utiliza mais a medida da TMB, hoje em dia, devido à complexidade do teste e à influência de muitas outras influências (além dos hormônios tireoidianos) sobre essa medida.
Qual a relação entre a taxa metabólica basal (TMB) e o peso corporal?
Diferenças na TMB estão associadas a mudanças do equilíbrio (balanço) energético. O balanço energético reflete a diferença entre a quantidade de calorias que entram no corpo (fornecidas pela alimentação) e a quantidade de calorias que é gasta pelo organismo em 24 horas. Se esse balanço energético for positivo (ou seja: a pessoa consome mais calorias do que gasta), então o indivíduo ganha peso. Se, por outro lado, o balanço energético for negativo (ou seja: a pessoa gasta mais calorias do que consome), então o paciente perde peso.
Quando um aumento da TMB é obtido – por exemplo, através da administração de anfetaminas a animais, ou do aumento da atividade física – esses animais desenvolvem balanço energético negativo e emagrecem. Baseado nesses dados, muitos pesquisadores concluíram que, se um indivíduo apresenta TMB aumentada devido ao aumento dos níveis de hormônios tireoidianos, esse indivíduo vai desenvolver balanço energético negativo e perder peso.
No entanto, seres humanos são muito mais complicados do que animais de laboratório, e por isso o peso corporal, em humanos, depende de muito mais fatores do que simplesmente a TMB e os níveis de hormônios da tireóide. Quando se aumenta a TMB em humanos usando a exposição ao frio, por exemplo, forçando o corpo a gastar mais energia para produzir calor e manter a temperatura corporal, a perda de peso obtida dessa forma é muito discreta. Por isso, a relação entre as taxas de metabolismo, o balanço energético e o peso é muito complexa. Há muitos outros hormônios (além dos produzidos pela tireóide), proteínas e substâncias químicas que também exercem influência sobre o gasto energético, o apetite e o peso. Uma vez que todas essas substâncias interagem entre si no cérebro e nos demais tecidos, fica muito difícil prever o efeito que a alteração sobre um único fator (como, por exemplo, o hormônio tireoidiano) vai determinar sobre o peso corporal. Dessa forma, atualmente, é praticamente impossível prever, com certeza, o que vai acontecer com o peso de uma pessoa que desenvolve alguma alteração do funcionamento da tireóide.

HIPERTIREOIDISMO
Qual a relação entre o hipertireoidismo e o peso corporal?
Uma vez que o excesso de hormônios da tireóide nos pacientes com hipertireoidismo está associado com um aumento da taxa metabólica basal (TMB), muitos pacientes com essa doença apresentam, de fato, alguma perda de peso. Além do mais, a probabilidade de perder peso se relaciona com a gravidade do hipertireoidismo – quanto mais severa a alteração dos níveis de hormônios tireoidianos (T3 e T4), maior a perda de peso. Como o aumento da TMB nesses pacientes, em geral, é muito intenso, uma boa parte dos pacientes com hipertireoidismo (apesar de apresentar aumento do apetite) não consegue aumentar sua ingesta de alimentos na quantidade suficiente para compensar o aumento da TMB, e por isso, desenvolve balanço energético negativo e perde peso.
Entretanto, como já comentamos antes, os fatores que controlam o apetite, o metabolismo e o grau de atividade física, em humanos, são muito variados e muito complexos, e o hormônio da tireóide é apenas um desses fatores. Assim, existe uma parcela dos pacientes com hipertireoidismo que acabam sofrendo um aumento do apetite (e conseqüente aumento da ingesta calórica) tão grande que acaba compensando ou até mesmo ultrapassando o aumento da TMB induzido pelo excesso de hormônios tireoidianos. Por isso, cerca de 10% dos pacientes com hipertireoidismo não perdem peso, e uma pequena percentagem deles pode até mesmo ganhar peso, dependendo da amplitude do aumento da sua ingestão diária de calorias.
Porque os pacientes ganham peso quando o hipertireoidismo é tratado?
Uma vez que o hipertireoidismo é um estado anormal (uma doença), é razoável prever que qualquer sinal ou sintoma decorrente dessa doença não se mantenha quando a anormalidade (doença) é tratada e corrigida. Por isso, a maioria dos pacientes com hipertireoidismo acaba recuperando, em média, o mesmo peso que perdeu devido à ocorrência do hipertireoidismo, uma vez que este é revertido com o tratamento.
Uma conseqüência dessa observação é o fato de que o hormônio tireoidiano apresenta muito pouca, ou nenhuma, utilidade no tratamento da obesidade. Quando o hormônio tireoidiano (T3 ou T4) é usado para fazer um indivíduo perder peso, o que está acontecendo é que o uso dessa medicação vai aumentar os níveis de hormônio tireoidiano na circulação sangüínea desse indivíduo – e, conseqüentemente, esse paciente vai desenvolver hipertireoidismo, com uma perda de peso semelhante aos de qualquer paciente portador de hipertireoidismo por qualquer outra causa. Entretanto, uma vez que o paciente interrompa o uso do hormônio tireoidiano, todo o peso que ele perdeu durante o uso do medicamento vai ser recuperado. Além disso, o uso de hormônio tireoidiano para emagrecer traz vários riscos à saúde (exatamente da mesma forma que o hipertireoidismo), ou seja, o paciente perde peso mas apresenta todos os sinais e sintomas de hipertireoidismo, com riscos sérios principalmente para os ossos e o coração. Por isso, o uso de hormônio tireoidiano não tem qualquer papel no tratamento da obesidade, e é formalmente contraindicado devido aos riscos inerentes ao seu uso. A única exceção são os pacientes obesos com hipotireoidismo, que têm indicação para o uso de hormônio tireoidiano devido à doença tireoidiana associada, não à obesidade.
Concluindo: hipertireoidismo provoca perda de peso?
A resposta é: SIM – e essa perda de peso pode ser importante, representando mais de 10-15% do peso corporal em alguns casos. Entretanto, cerca de 10% dos pacientes com hipertireoidismo não perdem peso, ou até ganham alguns quilos. Além disso, o peso perdido por causa do hipertireoidismo geralmente é recuperado com o tratamento da doença da tireóide.

HIPOTIREOIDISMO
Qual a relação entre o hipotireoidismo e o ganho de peso?
Uma vez que a taxa metabólica basal (TMB) está diminuída na maioria dos pacientes com hipotireoidismo, imagina-se que os pacientes com baixos níveis de hormônios tireoidianos (T3 e T4) devido a alguma doença da tireóide devam ganhar algum peso. No entanto, o que se observou, na maioria dos estudos, é que a diminuição da TMB em pacientes com hipotireoidismo é muito menos intensa e menos dramática do que o aumento correspondente da TMB que ocorre nos pacientes com a situação contrária (excesso de hormônios tireoidianos e hipertireoidismo). Por isso, as alterações de peso em pacientes com hipotireoidismo são bem menores e mais discretas do que as observadas nos pacientes com hipertireoidismo. A causa do ganho de peso em pacientes com hipotireoidismo também é complexa, e nem sempre está relacionada apenas ao ganho de gordura esperado de indivíduos com baixa TMB. De fato, a maioria do ganho de peso que ocorre em pessoas com hipotireoidismo se deve à retenção de sal e água (inchaço). Em geral, pessoas que desenvolvem hipotireoidismo ganham em torno de 3 a 5 quilogramas de peso devido ao problema de tireóide, sendo a maioria do peso ganho relacionado ao inchaço, e não ao acúmulo de gordura. Isso ocorre porque, embora a TMB seja diminuída nesses pacientes, eles também desenvolvem com freqüência uma diminuição do apetite, levando à redução da ingesta de calorias. Além disso, se o ganho de peso é o único sintoma de um paciente com suspeita de hipotireoidismo, é muito improvável que esse de peso seja devido apenas ao problema de tireóide. Em geral, ganhos de peso maiores acontecem em pacientes com graus mais severos de hipotireoidismo e alterações mais profundas dos níveis de hormônios tireoidianos no sangue, situação em que vários outros sintomas do hipotireoidismo devem estar presentes, mas um ganho de peso maciço (ou seja, acima de 10 Kg de peso ou representando mais de 5-10% do peso corporal) quase raramente ou nunca é devido apenas ao hipotireoidismo.
Que quantidade de peso o paciente com hipotireoidismo perde quando o hipotireoidismo é tratado?
Uma vez que uma boa parte do ganho de peso no hipotireoidismo deve-se ao acúmulo de sal e líquido, a correção do hipotireoidismo através do tratamento com hormônio tireoidiano (T4) deve provocar uma pequena perda de peso (em geral, menor do que 10% do peso corporal), devida principalmente à eliminação desse inchaço. Assim como no tratamento do hipertireoidismo, portanto, a correção da anormalidade hormonal (hipotireoidismo) através da reposição de T4 por via oral deve resultar no retorno do peso corporal ao seu normal (como era antes do aparecimento do hipotireoidismo). No entanto, uma vez que o hipotireoidismo geralmente se desenvolve ao longo de um grande intervalo de tempo, é comum observar que o paciente perde muito pouco (ou nenhum) peso após o tratamento correto do hipotireoidismo e a normalização dos seus exames de função tireoidiana. Se o paciente conseguir resolver todos os seus sintomas de hipotireoidismo com o tratamento mas não perder peso, é muito improvável que o seu excesso de peso seja provocado apenas pela tireóide. Uma vez que o hipotireoidismo tenha sido tratado adequadamente e os exames do paciente tenham retornado ao normal com o uso de hormônio tireoidiano (T4), a capacidade de ganhar ou perder peso do paciente vai ser exatamente a mesma de indivíduos que não apresentam qualquer problema de tireóide.
O hormônio tireoidiano pode ser usado para ajudar a perder peso?
No final do século XIX e início do século XX, o hormônio da tireóide foi, realmente, utilizado para induzir perda de peso, já que não existia nenhum outro medicamento que fosse efetivo para emagrecimento. O uso de hormônio tireoidiano (geralmente em doses altas) provoca, de fato, uma perda de peso muito maior do que aquela que seria obtida apenas com dieta, por exemplo. Entretanto, muitos estudos, desde então, demonstraram que esse tipo de uso para o hormônio tireoidiano está associado com efeitos colaterais sérios e potencialmente fatais. Usar hormônio tireoidiano em pacientes com tireóide normal, apenas para ajudar a perder peso, vai fazer com que essa pessoa desenvolva hipertireoidismo, com todos os sinais e sintomas associados a essa doença. Ou seja: a pessoa que usa hormônio tireoidiano para emagrecer perde peso porque desenvolve uma doença que provoca perda de peso, o hipertireoidismo – o que não é nada saudável, já que tem efeitos sérios e perigosos principalmente sobre o coração (arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca) e os ossos (osteoporose, fraturas). Além disso, o hormônio tireoidiano provoca uma grande perda de massa muscular, além da perda de gordura, que pode fazer com que o paciente desenvolva fraqueza muscular e dificuldade para realizar as tarefas do dia-a-dia. A perda de músculo também diminui a TMB do paciente, que vai engordar com muito mais facilidade, com menor TMB, quando parar de usar hormônio tireoidiano. Observou-se, realmente, que os pacientes recuperavam todo o peso perdido quando interrompiam o uso do hormônio tireoidiano Ou seja: a perda de peso induzida pelo uso desse tipo de medicação é transitória e associada a um grande número de efeitos colaterais potencialmente graves. Por todos esses motivos, o uso de hormônios tireoidianos não é recomendado, e é contra-indicado, para o tratamento da obesidade em pessoas que não possuem doenças da tireóide.
Concluindo: hipotireoidismo provoca ganho de peso?
A resposta é: SIM – mas esse ganho de peso é geralmente discreto (da ordem de 3 a 5Kg), e se deve principalmente ao inchaço, mais do que ao acúmulo de gordura. Portanto, hipotireoidismo pode provocar um pequeno ganho de peso, mas não causa obesidade. Além disso, o tratamento do hipotireoidismo nem sempre se associa a perda de peso.

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